Influências Psicológicas
É hora de conhecer o segundo pilar de sobrevivência no mercado: aprender a lidar com seu principal inimigo. Você.
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Até agora, cobrimos os princípios que orientam a tomada de decisão de um analista técnico. Em suma, temos que os únicos objetivos de um trader são (1) estudar estratégias operacionais e (2) executá-las de acordo com o contexto e ativo adequados. A priori, é de se imaginar que o primeiro objetivo seja o mais complicado. Contudo, o que se observa na prática é o oposto - justamente porque a execução envolve o lado emocional.
Controle Emocional
Apesar de clichê, o componente psicológico talvez seja, para a maioria das pessoas, o maior impeditivo do sucesso como investidor. É preciso ter consciência que a atividade de investir requer um conjunto de características contrárias a impulsos primazes da natureza humana. Por esta razão, frieza é considerada uma qualidade pessoal imprescindível neste meio: a habilidade de identificar e bloquear interferências emocionais na sua conduta, diante de reações psicológicas provocadas por movimentos nos preços (e no seu bolso).
Você já deve ter ouvido falar que o segredo para se ganhar no mercado é comprar na baixa e vender na alta. Parece fácil, não? O bitcoin caiu mais de 70% de sua respectiva máxima histórica em 4 ocasiões desde a sua existência. As principais bolsas mundiais, caem 20% com relativa frequência. Quantas pessoas compram nesses períodos? Quantas vendem? Nosso cérebro é condicionado a fugir de situações de perigo. Adivinha os sinais que essas quedas provocam no corpo....
Por mais simples e intuitivo que seja a conduta de comprar quedas, a maioria das pessoas simplesmente não consegue colocá-la em prática.
O som do canhão é muito alto. Neste sentido, é popular o conceito de que a força mais poderosa do mercado é o medo. Este que, de um lado, motiva as pessoas a venderem posições em períodos de forte queda, e explica o porquê tais movimentos são geralmente mais íngremes que sua contraparte. Por outro, motiva-as a comprar depois de uma forte alta, pelo medo de ficar de fora (“FOMO - Fear of Missing Out”).
Resultado? Compram o topo, vendem o fundo. Repetem até esgotar o dinheiro e saem revoltadas do mercado.
Teoria da Prospecção
Finanças comportamentais é um campo da economia moderna dedicada a estudar a influência da psicologia no processo de decisões financeiras. Anedotas e narrativas como a do poder do medo, que eram a norma diante de uma evidência avassaladora de comportamentos irracionais generalizados nos mercados, tornaram-se ciência.
Resumidamente, o conceito propõe que as pessoas atribuem maior valor a perdas do que a ganhos - a função de utilidade para prejuízos é convexa e mais íngreme do que para lucros. Em outras palavras, perdas provocam um impacto emocional de dor maior do que o de satisfação em ganhos, para a mesma quantidade financeira. Desta forma, investidores têm maior propensão a risco em posições com prejuízo, na esperança de que volte para o lucro.
Analogamente, a possibilidade de uma posição ganhadora se tornar perdedora faz com que investidores tenham uma propensão menor a risco em posições no lucro. Em ambos, a tomada de decisão é motivada pela tentativa de eliminar uma perda, mesmo que o resultado não seja financeiramente racional.
A aversão à perda, assim, sobrepõe a popular aversão ao risco: o risco é aceitável quando se busca evitar a perda.
Qual o paralelo com o que postamos anteriormente? A aversão à perda reforça a necessidade de stops em todas as operações, e determina as estratégias operacionais adequadas ao seu perfil. Lembre-se que o principal comprometimento de estratégias com payoff alto é um menor índice de acerto - ou seja, uma frequência maior de perdas. É preciso suportá-las. O objetivo do stop é eliminar cedo as posições perdedoras. O objetivo do alvo e da política de saída de posições é garantir que você não saia precocemente das posições vencedoras. Essas são as ferramentas que previnem o Disposition Effect.
A literatura atual é repleta de novas teorias e evidências científicas de outros comportamentos irracionais, cujo detalhamento mereceria centenas de páginas. A mensagem principal que queremos passar é que o descontrole emocional é comprovadamente um obstáculo que deve ser superado para ter sucesso nessa profissão. Como iniciante, essa tarefa é excepcionalmente difícil.
A opção por estratégias sistemáticas possui o apelo de forçar uma disciplina de execução, por não dar espaço para subjetividade. Em contrapartida, a discricionariedade em estratégias viabiliza influências emocionais. Escolha com consciência.
Expectativas
Finalmente, finalizamos o tópico com um aspecto psicológico secundário, mas que merece devida atenção: a administração das expectativas.
Uma pessoa que adentra a atividade de trading com a pretensão de enriquecer rapidamente e facilmente provavelmente quebrará a conta.
Apesar de ganhar muito dinheiro em pouco tempo ser possível, isto será às custas de um risco excepcionalmente elevado. A proporção dos que são capazes de fazer isso com sucesso e os que faliram no caminho devem ser próximas às de se ganhar na Mega Sena.
O mercado remunera os pacientes, os estudiosos e os equilibrados.
A mentalidade correta é começar essa atividade com muita cautela.
Procurar abstrair o máximo de informação e realizar testes por conta própria.
Desenvolver uma estratégia vencedora adequada para o seu perfil.
Executá-la com maestria.
Monitorá-la e otimizá-la com frequência.
Aumentar o risco por operação conforme ganhar experiência, e consistência.
Aprender com os erros.
Reconhecer suas fraquezas emocionais e aprender a lidar com elas.
Lembrar-se que o mercado pune sem piedade
Uma fortuna acumulada em anos por ser eliminada em um dia.
Se você estiver preparado para lidar com isso, seja BEM-VINDO.
A “” de Daniel Kahneman é considerada o maior marco desta transição na abordagem do tema, e propulsor desta área de estudo. A obra sintetiza décadas de observações empíricas e inferências a respeito do comportamento humano no mercado financeiro, de modo que rendeu um Nobel de economia ao autor. Em especial, pelo embate que colocou para as principais teorias econômicas da época, em que era habitual assumir racionalidade das pessoas como premissa.
Talvez a maior contribuição da teoria seja a introdução do conceito de aversão à perda, capaz de explicar um fenômeno muito debatido na literatura: a disposição dos investidores em segurar posições perdedoras em detrimento às ganhadoras, conhecido como “”.
Como descrito pelo #5 , o mercado é essencialmente um caos. Respeite a sua imprevisibilidade. Não caia na ilusão de que existe ordem. Estudar melhora suas chances de sucesso, mas saiba que você ainda está lidando com o caos, em um ambiente extremamente competitivo, contra as melhores cabeças do mundo. Você não tem o poderio e as informações das grandes instituições. O emprego de uma estratégia rentável com perfeição pode não ser suficiente. Não há nada garantido.
Na , entenderemos o que os caixotes encontrados nos gráficos representam, assim como técnicas que essa ferramenta permite.