Formações de Candles
Candles - o gráfico de velas - são o estilo mais popular de descrever movimentos de preço. Quais informações essa ferramenta fornece? Existem padrões? Como trabalhar com eles?
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O padrão de visualização gráfica que você encontrará na maioria das plataformas (como o , ou os sistemas nativos de exchanges) consiste em vários caixotes com riscos verticais, que se movimentam para a direita, em cores diferentes. Ao abrir o gráfico do bitcoin, por exemplo, é com isso que você se depara:
Afinal, do que se trata?
O gráfico de velas (em inglês, “candlesticks”) é uma forma de representar a evolução no preço de um ativo, originada no Japão há centenas de anos atrás. Dentre um número crescente de , é notável como esta se consolidou como a mais popular, especialmente considerando a sua idade.
1. Componentes de um Candle
Cada vela, ou candle, é uma função de três fatores:
O formato de um candle é determinado por 4 informações - a abertura, o fechamento, a máxima e a mínima, do período selecionado (OHLC, em inglês). A “caixa” é o chamado “corpo” do candle, cujas extremidades são a abertura e o fechamento. O “risco” é a chamada “cauda” ou “sombra” do candle, cujas extremidades são a máxima e a mínima.
A cor de um candle se popularizou como uma forma de expressar se o preço subiu ou caiu, no período selecionado. Se o fechamento for maior que a abertura, o usual é que o candle seja colorido de verde - e de vermelho, para o inverso. Note que a maioria das plataformas atuais permitem a customização dessas cores, com regras que vão além de um fechamento positivo/negativo.
2. Formações Clássicas
Assim, constitui-se uma das primeiras formas de abordagem a investimentos baseado exclusivamente em comportamento de preço, um precursor do enorme arsenal de ferramentas da análise técnica como conhecemos hoje.
A imagem a seguir sintetiza os padrões mais populares propostos por Steve Nison, assim como alguns adendos contemporâneos. A peculiaridade é que todos sinalizam uma reversão do movimento prévio, como explicaremos adiante. Ressaltamos, o importante aqui é entender o racional das inferências do autor, ao invés de decorá-los.
3. Formas Básicas
Primeiro, é possível segmentar três formatos excepcionais de candles. Estes que, apesar de não constituírem um padrão, tem uma significância própria. As sinalizações que produzem são genéricas - independem do contexto em que aparecem, da movimentação prévia.
O candle Doji é aquele com o mesmo preço de abertura e de fechamento, que resulta em uma aparência similar à de uma cruz. Sua sinalização é de dúvida, indecisão entre os investidores, dado que nenhuma das forças (compradora ou vendedora) foi capaz de superar a outra no período;
O candle Marubozu é aquele cuja abertura e o fechamento são também as máximas e as mínimas do período, que resulta na ausência de sombras (em alusão a um “homem careca”, o significado do nome em japonês). Em total contraste com o Doji, essa forma é uma clara demonstração de força de um dos lados do mercado, de tal maneira que a direção dos preços foi mantida do começo ao fim até o extremo oposto da abertura;
O candle Spinning Top é aquele com sombras longas e um corpo relativamente pequeno (em alusão a um pião, o significado do nome em inglês). Este, em semelhança ao Doji, também sinaliza indecisão, uma vez que reflete como preços tentaram uma movimentação direcional forte para ambos os lados mas não conseguiu se firmar em nenhum deles, retornando para uma faixa próxima à abertura.
4. Formações de 1 candle
Começaremos com os padrões que são determinados por um candle único, cuja sinalização difere dependendo da movimentação dos preços anterior. Cada dupla a seguir representa um espelho da outra (conotações altistas e baixistas), por isso foram agregadas.
Martelo e Estrela Cadente: essa formação se dá por uma sombra longa na direção do movimento prévio e um corpo pequeno, que fecha próximo ao extremo oposto da sombra (a rigor, o fechamento é o extremo oposto, ou seja, sem a existência da sombra em um dos lados). O caráter de reversão ocorre pela sombra longa refletir como os preços tentaram produzir uma nova mínima (no caso do martelo) e uma nova máxima (no caso da estrela cadente) mas foram negados. A negação é tão forte que os preços fecham na ponta oposta, em contraste com a movimentação prévia, sinalizando o início a uma reversão.
Martelo Invertido e Enforcado: essa formação é igual a anterior, com exceção da sombra longa ser na direção inversa ao movimento prévio. O caráter de reversão ocorre pelo corpo pequeno sinalizar uma desaceleração, mesmo que a sombra seja na ponta contrária. O preço visita a região de uma nova máxima (no caso do enforcado) e nova mínima (no caso do martelo invertido), mas falha em ganhar impulso e fecha contra a movimentação prévia.
Uma observação é que, pelos resultados apresentados por Bulkowski (discutido adiante), esse padrão falha na maioria das vezes, sendo um dos piores em uma lista de mais de 100 formações.
Libélula e Lápide: essa formação é como uma versão Doji do martelo e da estrela cadente, respectivamente. As sinalizações e o racional são os mesmos, com o adendo de que a ausência de corpo do Doji dá um teor de indecisão que contrasta com uma demonstração mais direcional das suas contrapartes com corpo (que não significa muito, pelos corpos serem pequenos).
5. Formações de 2 candles
Um passo adiante em complexidade, chegamos aos padrões determinados por dois candles, que são contrários e em sequência.
Engolfo: essa formação se dá por um candle cujo corpo “engole” completamente o corpo anterior. A rigor, as sombras são irrelevantes, o fator determinante é as extremidades do corpo superarem as extremidades do corpo anterior. O caráter de reversão ocorre pelo preço abrir abaixo do fechamento anterior (no engolfo de alta), dando a entender que continuaria o movimento prévio, mas negar essa movimentação com tamanho ímpeto que supera a abertura anterior - o inverso, para o engolfo de baixa. A formação é fortalecida quanto maior o contraste de tamanho entre os corpos.
Uma observação é que a forma padronizada exige gaps (quando o preço de abertura difere do preço de fechamento anterior, criando uma “janela/vácuo” no gráfico, um fenômeno que não ocorre no mercado de criptoativos pelo mercado funcionar 24 horas por dia). Uma alternativa é o “outside candle”, que leva em conta as sombras.
Harami: essa formação é o engolfo, com a sequência invertida. Ou seja, o corpo do candle está completamente “contido” no corpo anterior. Em alusão à uma mulher grávida (significado do nome em japonês), a sinalização é que o “filho” que está para nascer representa uma quebra da movimentação anterior, que irá “crescer” em uma reversão.
A mesma observação sobre gaps é válida. Uma alternativa é o “inside candle”, que assim como o outside, leva em conta as sombras.
Perfurante e Nuvem Negra: essa formação se dá por uma abertura em gap a favor da movimentação anterior, mas com o fechamento superior a 50% do corpo anterior na ponta contrária. O caráter de reversão ocorre pela movimentação refletir uma negação do fundo que foi perdido no gap de abertura (no caso do perfurante) e do topo que foi superado (no caso da nuvem negra). O fechamento que penetra mais da metade do corpo anterior é a demonstração de força dessa negação. Note que, se 100% do corpo for superado, a formação se torna um engolfo.
Novamente, a observação sobre gaps é válida. Para criptoativos, uma sombra longa pode servir de alternativa para “compensar” a ausência do gap.
Torres Gêmeas: essa formação se dá por dois candles contrários idênticos em sequência, como uma espécie de negação simétrica do movimento anterior. Para configurar uma torre, a rigor o candle precisa se destacar em tamanho, de corpo grande e sombras pequenas - na versão extrema, seriam dois marubozus consecutivos. Lembrando, quanto maior a amplitude, maior será a demonstração de negação e consequente sugestão de reversão.
Vale ressaltar que essa formação não é apresentada por Nison. Ela pode ser encarada como uma adaptação da formação clássica de “pinça”, em que apenas uma extremidade exige simetria (como possuir a mesma máxima, ou a mesma mínima). Ainda, há outras variações desse conceito, como as “pin bars” (uma abreviação de Pinóquio), em que os candles possuem corpos pequenos e sombras longas contrárias a movimentação anterior (em alusão a uma mentira, que inspira o nome).
6. Formações de 3 candles
Finalmente, terminamos o tópico com padrões que são determinados por uma sequência específicas de três candles.
Estrela da manhã e da tarde: o conceito de “estrelas” diz respeito a candles que contrastam tanto o candle prévio como o candle subsequente, em distanciamento e em amplitude. A sequência é caracterizada por (i) um candle grande, em favor do movimento anterior; (ii) seguido de um candle pequeno - em sombra e em corpo - que abre em gap, na direção do movimento prévio e (iii) seguido por um candle grande na direção oposta, que também abre em gap. O caráter de reversão é primeiro sugerido pelo candle estrela (o do “meio”, que quebra o impulso do candle inicial) e confirmado pelo terceiro, cujo tamanho sinaliza uma anulação do candle inicial.
Essa formação é relativamente rara e notória por produzir topos (no caso da estrela da tarde) e fundos (no caso da estrela da manhã), como proposto pelo autor.
Este, mais potente e mais raro, é comumente antecipado, assim que o suposto terceiro candle da sequência abre em um gap além da sombra do segundo.
Vocês já devem estar antecipando que… novamente, a observação sobre gaps é válida. Para criptoativos, para superar a ausência dos gaps, um contraste notável de tamanho do candle do meio e das pontas pode servir de alternativa.
Como colocamos anteriormente, o racional dos padrões prevalece sobre a rigidez geométrica. A inferência de reversões, em todos os casos, é justificada por uma movimentação de preço que quebra a impulsividade do movimento anterior, seja através de uma desaceleração, uma dúvida, ou uma demonstração de força contrária.
7. Resultados
Sim, parece abstrato. Você deve estar se perguntando: "Mas então, isto serve ou não serve para alguma coisa"? Qual a confiabilidade das inferências destes padrões?
Como de costume, não se deve acreditar em nada que qualquer autor escreva (incluindo nós), mas sempre realizar testes por conta própria para validar ou não o que lhe é apresentado.
É comum, no entanto, sua utilização como ferramenta complementar, em especial condicionada a um contexto específico. Como veremos na última seção desta série, duas das estratégias que serão rastreadas pela plataforma derivam de candles específicos (somados a outras condições), ainda que diferentes dos clássicos.
O período de um candle se refere ao tempo necessário para cada formação individual. Ou seja, se o período selecionado é de 10 minutos, isso significa que a cada 10 minutos um novo candle será produzido, com informações referentes a movimentação durante esse tempo. Como referência, usualmente, scalpers trabalham com períodos inferiores a 10 minutos; day-traders, com períodos inferiores a 60 minutos; swing-traders, com gráficos diários; e position-traders, com gráficos semanais. Vale ressaltar que candlesticks são uma forma de visualização gráfica temporal, mas há alternativas atemporais (como o , em que novas velas são produzidas por variações de preço, em vez de períodos).
As primeiras técnicas de formações de candles, apesar de atribuídas a , foram introduzidas ao ocidente por Steve Nison através de seu livro “”. Nele, o autor aborda como determinadas formas e sequências de candles produzem sinalizações preditivas para o comportamento dos preços, por refletirem a emoção dos investidores (lembre-se que na época gráficos eram feitos a mão, e indicadores não existiam).
Apesar de desatualizados, os de Thomas Bulkowski fornecem uma boa referência estatística para as formações de velas. De uma forma geral, corroborado pelos resultados, a aplicabilidade exclusiva das técnicas clássicas de candlesticks é extremamente questionável para os mercados atuais, de forma que muitos traders as negligenciam por completo.
Na , veremos como os preços apresentam dinâmicas de comportamento recursivas, e como tirar proveito delas.