O esqueleto de uma estratégia
Entenda os 6 atributos que definem o esqueleto de qualquer estratégia operacional.
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Estratégias operacionais sistemáticas (ou “setups”) são métodos de investimento que, em contraste com a análise técnica clássica, não apresentam subjetividade. Isto é, as condições de entradas e saídas são perfeitamente quantificáveis, determinadas por indicadores ou relações matemáticas. Elas são algorítmicas.
Neste texto, vamos dissecar as 6 variáveis que configuram um setup. A partir delas têm-se um esqueleto teórico para entender qualquer tipo de estratégia.
Filosofia
Periodicidade
Indicador
Acionamento
Filtro
Saída
Qual comportamento a estratégia explora?
Qual o tempo gráfico utilizado?
Qual é o fator determinante em que a estratégia é baseada?
Qual o plano de entrada da posição?
Quais condições favorecem a estratégia?
Qual o plano de encerramento da posição?
1. Filosofia
Isso mesmo: a essência de qualquer estratégia sistemática que lhe for apresentada (por mais complicada que seja) pode ser resumida a uma destas duas simples ideias.
Tendências foram abordadas . Volatilidade trata da intensidade e frequência das variações no preço de um ativo.
Costumeiramente, mede-se volatilidade pelo desvio padrão da variação diária dos preços, em determinada janela temporal. O bitcoin, desde 2017, apresentou uma volatilidade anualizada que variou de 10% até quase 200% (pela ) - evidenciando como, ironicamente, até a sua volatilidade é volátil. Esses números lhe garantem - assim como à maioria das criptoativos - o título de um dos ativos mais voláteis do mundo. Ou seja, a amplitude dos movimentos deste mercado é, na média, .
Para ilustrar as filosofias com base nesses dois conceitos, considere os gráficos a seguir. Pergunte-se: qual tipo de estratégia seria apropriada para cada um? O que a distinção no comportamento deles te diz?
À esquerda, trata-se do gráfico semanal do bitcoin vs dólar. À direita, trata-se do gráfico diário do criptoativo bread vs bitcoin. Em primeira instância, a diferença mais chamativa entre eles é a tendência de alta (no bitcoin) e a congestão (no bread). Contudo, como postulamos anteriormente, estes são estados de comportamento, e não uma característica. Afinal, mesmo o bitcoin possui momentos de congestão.
A distinção principal que deve ser feita é sobre a consistência da direcionalidade: o bitcoin “engata” trajetórias, através de ciclos longos em que uma direção é mantida, com uma frequência maior de sombras pequenas em relação ao corpo. Há diversos “vácuos” no gráfico. No extremo oposto, o bread “ameaça” trajetórias, através de movimentações erráticas em que nenhuma direção é mantida, com uma frequência maior de sombras grandes em relação ao corpo. Vácuos no gráfico são raros, os preços “preenchem” quase todas as regiões.
Quais são as implicações desses perfis de comportamento?
As movimentações direcionais do bitcoin são mais "confiáveis". Há uma natureza de continuidade. Em tendência de alta, a conduta adequada é a de procurar por oportunidades de compra, pois o movimento tende a ser prolongado. Em tendência de baixa, a conduta se inverte: é adequado procurar por oportunidades de venda, pela mesma razão. É neste sentido que estratégias seguidoras de tendência atuam: explorando a direcionalidade dos preços, em favor da trajetória vigente.
Por outro lado, as movimentações direcionais do bread são mais “mentirosas”. Há uma natureza teimosa de reversão. Após uma movimentação ampla para cima, a conduta adequada é a de procurar por vendas, pois a volatilidade tende a reverter o movimento. Após uma movimentação ampla para baixo, a conduta se inverte: é adequado procurar por compras, pela mesma razão. É neste sentido que estratégias de volatilidade atuam: explorando o retorno dos preços a um patamar anterior (médio).
2. Periodicidade
Apesar de cada ativo (ou mercado) possuir um perfil nativo de comportamento, a periodicidade tem um impacto relevante sobre ele.
Em suma, movimentações tendem a ser mais direcionais quanto mais longo o tempo gráfico trabalhado. Gráficos de 1 minuto, por exemplo, são extremamente erráticos e caóticos. Gráficos semanais, por outro lado, são relativamente ordenados.
Por essa razão, sinalizações produzidas em periodicidades maiores ganham maior relevância - são consideradas mais "confiáveis".
3. Indicador-chave
Apesar de não haver uma segmentação unânime, podemos enquadrar indicadores em 4 categorias:
Assim, o gatilho para entrada ocorre a partir de alguma ação do indicador-chave. Por exemplo, em estratégias que utilizam mais de um indicador, esta ação tipicamente envolve uma forma de cruzamento (como uma média móvel "X" cruzar com uma média móvel "Y"). Em estratégias que utilizam apenas um indicador, esta ação tipicamente envolve um patamar a ser atingido (como o IFR apresentar um valor "Z").
4. Política de Acionamento
Usualmente, independente do indicador-chave usado, acionamentos se dão no fechamento do candle, ou na espera de uma confirmação no candle seguinte (no caso de compra, na superação da máxima do candle anterior; no caso de venda, na violação da mínima do candle anterior).
Dentre políticas baseadas em fechamento, e aquelas baseadas em confirmação, as do segundo tipo são mais conservadoras. Elas exigem uma movimentação adicional dos preços na direção desejada – ao custo de uma entrada mais “cara”.
Um adendo possível sobre o acionamento por confirmação, é que ele necessariamente ocorra no candle subsequente (ou em N candles seguintes). Se não ocorrer, a ordem é cancelada. A ideia desta restrição é que, com o passar do tempo, a estratégia pode se descaracterizar.
5. Filtros
Por exemplo, a presença de uma tendência é a circunstância ideal para estratégias que exploram direcionalidade. Como garantir que as operações ocorram somente sob este estado?
Sabemos que uma tendência é facilmente identificada pela trajetória de topos e fundos. Porém, essa identificação é visual. Lembre-se que uma das motivações das estratégias sistemáticas é abstrair a discricionariedade. Essa identificação pode ser feita através de um indicador.
Sabe por que médias móveis estão entre os indicadores mais populares da análise técnica? Justamente porque servem a esse propósito. Elas são utilizadas como uma forma objetiva de inferir tendências, basicamente de duas maneiras:
Através da direção: neste caso, uma tendência de alta é representada por uma média móvel (ou conjunto delas) ascendente. E descendente para uma tendência de baixa.
Através do alinhamento: neste caso, uma tendência de alta é representada pelo preço estar acima de uma média móvel (ou uma média móvel mais curta estar acima de outra mais longa). O inverso para tendência de baixa.
O critério de direção é mais sensível que o de alinhamento. Em outras palavras, é necessária uma movimentação mais consistente para alinhar médias móveis, do que para direcioná-las.
Tendências terciárias capturam movimentos de curto prazo (referência inferior a 20 períodos);
Tendências secundárias capturam movimentos de médio prazo (referência de 50 a 100 períodos);
Tendências primárias capturam movimentos de longo prazo (referência superior a 200 períodos).
Em suma, quanto mais curta a média móvel, menos significativa ela tende a ser. Isso não implica em uma desvantagem. Essa escolha precisa ser testada e refletir o comportamento do ativo que está sendo tratado.
Como ilustrado pelo gráfico semanal do XRP/BTC abaixo, as trajetórias de baixa desse ativo são muito menos íngremes e duradouras do que suas contrapartes altistas. Aquela que é uma anomalia nos mercados tradicionais revela-se comum em criptoativos.
O que podemos extrair disso? Esse perfil sugere que médias móveis longas não são adequadas como filtro de tendência em altcoins. Mesmo para o bitcoin, movimentos amplos repentinos capazes de mudar a estrutura do mercado são muito comuns. A imprevisibilidade e a volatilidade dos criptoativos nunca deixam de surpreender.
6. Política de Saída
Esse componente da estratégia engloba três variáveis:
Stop inicial é o stop posicionado assim que a operação for aberta (dependendo da exchange, essa ordem pode ser enviada em conjunto, vinculada ao acionamento da entrada).
A forma comum mais simples deste stop é a ponta oposta do candle que deu origem a entrada (a mínima, para ponta comprada; a máxima, para ponta vendida). Ou seja, arrisca-se apenas um candle. Esse posicionamento é agressivo pois a sua colocação tende a ser muito próxima da entrada. Essa proximidade, de um lado, favorece a assimetria da operação; do outro, aumenta a sua probabilidade de acionamento. A decisão, no final das contas, sempre recai sobre esse trade-off.
Alternativas comuns atuam na direção de utilizar mais de um candle anterior ao acionamento como referência, ou utilizar alguma outra informação que não seja máximas e mínimas (por exemplo, derivado de um indicador de volatilidade).
Stop móvel é o stop que acompanha o andamento da operação, conforme ela for ganhadora.
A forma popular mais agressiva é conhecida por “barra-barra”, na qual o stop se move para cada mínima (em operações de compra) e para cada máxima (em operações de venda), em todo novo candle. A agressividade se refere ao fato de que esse stop móvel é desenhado para não durar muito. Ou seja, sair da posição rapidamente julgando que o patamar de lucro atual é suficiente. Afinal, máximas e mínimas são tocadas com facilidade. Variações mais acomodativas utilizam mais de um candle de distância.
Vale notar, todas essas táticas são baseadas em preço. Apesar de incomum, outras formas de stop são temporais – em que a saída ocorre N dias ou candles após a entrada, independente das variações no preço (ou alguma combinação entre eles).
A imagem a seguir ilustra como a movimentação de baixa na EOS/BTC conciliou diversos usos de stop em uma operação vendida, sejam discricionários (como os re-testes de fundos rompidos, e formações baixistas de candles) ou sistemáticos (como derivados da média móvel de 20 períodos, que acompanhou com perfeição boa parte da queda).
Alvo: uma abordagem alternativa é de utilizar um alvo fixo, posicionado na abertura da operação, junto ao stop inicial.
Essa política muitas vezes dispensa o stop móvel, de forma que o resultado da operação se torna binário: ou aciona o stop inicial ou atinge o alvo. Não há meio termo. Analogamente, o uso de stop móvel muitas vezes dispensa alvos.
Alvos são mais arbitrários do que stops, no sentido das metodologias serem mais dispersas. A decisão é geralmente extraída por “tentativa e erro”, em backtests. Não há o uso comum de um indicador. Um costume é projetar N vezes o risco da operação, ou determinado percentual fixo.
Tendência: tratam de direcionalidade e força, como e o ;
Momentum: tratam da aceleração de movimentos, como o e o ;
Volatilidade: tratam da amplitude e da frequência de variações no preço, como as e o ;
Volume: tratam a relação do volume com o preço, como o e o .
Para ilustrar essa variável, suponha a estratégia simples da Cruz Dourada que citamos no desta série. As duas opções de acionamento são: quando a média móvel de 50 cruza com a média móvel de 200, sugere-se (1) a compra imediata no fechamento do candle em que o cruzamento ocorreu, ou (2) a colocação de uma ordem de compra na máxima deste candle.
Além desses critérios, a escolha da periodicidade da média móvel também é de extrema relevância. Para entender esse parâmetro, novamente podemos recorrer a uma heurística de . Segundo ele, os mercados possuem três tendências: primária, secundária e terciária, ordenadas por duração e relevância.
Por exemplo, a maioria das altcoins (moedas alternativas ao bitcoin) tem uma dinâmica muito peculiar. Elas invertem o ditado popular sobre o mercado “sobe de escada e desce de elevador” - uma alusão a observação de que movimentações de queda são mais rápidas e violentas do que as de alta. do poder do medo?
Outros parâmetros se referem a maneira como a média móvel é calculada. O mais comum é o uso do preço de fechamento. Mas há variações que utilizam a mínima, a máxima, e outros. Dentre os tipos, a média móvel simples é a mais popular, junto com a exponencial (a diferença é que a simples dá o mesmo peso para todos os períodos que compõe o cálculo, enquanto a exponencial dá um peso maior para os períodos mais recentes). Há que usam cálculos mais avançados.
Além de médias móveis, outros indicadores populares que servem como filtros de tendência são o e o .
No caso de estratégias discricionárias, patamares de suporte sugeridos pelos padrões complexos , ou pontos intermediários de , são formas comuns.
Essa variável é muito abrangente e não trivial. A forma mais popular desse stop é por volatilidade, na qual utiliza-se um indicador que mensura a amplitude da movimentação média do ativo em um período (”) e projeta esse valor (ou N vezes esse valor) a partir do preço atual. A vantagem é que esse indicador captura as peculiaridades do ativo, o que lhe torna preferível a um valor arbitrário. Outro indicador popular utilizado no mesmo sentido do ATR é o .
As médias móveis também são muito utilizadas como stop móvel. O descruzamento do mesmo critério que filtra a entrada, uma virada de direção de alguma delas, um “toque”, ou um fechamento acima/abaixo delas… o uso é muito versátil. Como referência, a média de 20 períodos é a mais popular. No Brasil, uma variação comum é o chamado , em que a média é calculada pelas mínimas (no caso de alta) e das máximas (no caso de baixa), em detrimento ao fechamento.
Ainda, o alvo pode ser estabelecido para uma parcela da operação, em detrimento dela inteira. Essa prática é conhecida por “Realização Parcial”. A sua popularidade pode ser explicada em parte pelo aspecto psicológico: muitas pessoas têm dificuldade de manter operações com lucros altos ( da aversão à perda?), e se utilizam de realizações parciais como uma forma de conciliar o risco desse lucro ser revertido com o risco de abrir mão de lucros maiores. Por exemplo, vender metade da posição quando atingir um lucro equivalente a uma ou duas vezes o risco inicialmente incorrido, e deixar o resto “fluir” com um stop móvel acomodativo.
A seguir, veremos a aplicação prática do conhecimento adquirido acima. Selecionamos 4 setups de resultados comprovados para monitorar na plataforma. O que eles têm em comum? Qual a característica única de cada um que justifica a sua escolha? Confira na .